18-11-2010 16:18

Primeiros escritos das artes

 

 

Juazeiro do Norte Em 1961, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauac) realizou em Paris a exposição "Gravures Populaires Brésiliennes". A mostra resultou da seleção de obras que compunham o acervo do Mauac adquiridas pelo artista plástico Sérvulo Esmeraldo. O objetivo era a organização de um acervo que representasse a arte produzida no Ceará: xilogravuras, peças de cerâmica, esculturas sacras, ex-votos. Para a exposição foram escolhidas xilogravuras confeccionadas em Juazeiro do Norte por Mestre Noza, Antônio Batista Silva, João Pereira da Silva e Damásio Paulo da Silva. A mostra percorreu, Paris, galerias da Basileia, Lisboa e Porto.

A mesma exposição foi aberta no Rio de Janeiro, em 1963, pela Comissão Nacional de Folclore, como resultado da colaboração com o Museu de Arte do Ceará e o Museu de Artes e Técnicas Populares de São Paulo. No Rio de Janeiro, as gravuras foram expostas no Museu de Arte Moderna (MAM) com o nome de "Exposição de Gravuras e Esculturas Folclóricas".

Em 1965, o editor Robert Morel reproduziu, em Paris, um álbum contendo 15 xilogravuras. A primeira gravura não reproduz nenhuma imagem, apenas o título e autor da obra: Via sacra gravada por Mestre Noza Brazil. Os contornos introduzidos nos tacos de umburana, de espinhos feitos com uso do formão e ponta de canivete, onde os apóstolos são reduzidos ao plano bidimensional em preto e branco, tiveram uma recepção surpreendente. As imagens desvendam um estilo expressivo e direto. Com poucos detalhes, os traços se revelam firmes, precisos e econômicos.

Na obra, o xilogravurista já assina como Mestre Noza (1897-1983); nas matrizes aparecem as iniciais MN, adjetivação que lhe foi atribuída pelos aprendizes e pela crítica especializada, em razão do lugar que ocupou na formulação de um estilo para a gravura e escultura em madeira produzidas em Juazeiro do Norte. A primeira tiragem da Via Sacra foi de apenas 22 exemplares e se esgotou rapidamente. Em poucos meses outra edição foi impressa, desta vez com mil exemplares. O trabalho chegou até Robert Morel, mais uma vez, pelas mãos de Sérvulo Esmeraldo, que havia sugerido a Mestre Noza o tema da via sacra e levou para o ateliê do escultor reproduções que serviram de modelo para as gravuras.

Mestre Noza chegou a Juazeiro em 1912. Aos 15 anos, atravessou a pé a distância de 600Km que separa Juazeiro do município de Quipapá (PE). Frequentou a oficina do escultor José Domingos, onde aprendeu a confecção de rótulos de aguardente e carimbos. Posteriormente, aprendeu a fabricar cabos de revólver. Diante das demandas dos romeiros por esculturas de santos, se forjou como "santeiro" e "imaginário", como são chamados aqueles que são reconhecidos "fazedores de imagens". Nos anos 40, recebeu o convite do editor José Bernardo da Silva, dono da Tipografia São Francisco, para confeccionar a capa de um folheto de cordel, quando iniciou sua incursão pela arte da xilogravura.

Sob encomenda, Noza esculpiu uma imagem de Padre Cícero com batina, chapéu, cajado e, fiel ao próprio estilo, o representou com linhas retas, econômicas. Levou a peça pessoalmente ao Padre Cícero, que lhe perguntou: "Eu sou assim?". Noza respondeu categoricamente: "sim". Desde então a representação de Padre Cícero por Noza se tornou um ícone; as linhas que Noza reproduziu em centenas de esculturas ajudaram a compor uma imagética do Padre Cícero, que se materializou com a construção da estátua fincada no alto do Horto, em 1969. Noza encarnou em si mesmo identidades aparentemente contraditórias: como "imaginário", "artesão" e artista. A recorrência a elementos do imaginário coletivo não refutou o aspecto autoral de sua obra na avaliação dos críticos de arte.

Europa

No entanto, para obter a "plena" aceitação dos franceses, Noza teve que fazer concessões. Os primeiros santos de Noza eram lixados e recebiam algumas pinceladas em cor. Os franceses não gostavam das esculturas coloridas e Noza foi "aconselhado" a manter as características supostamente "autênticas" de suas esculturas. A obra de Noza se tornou, desta feita, acromática. Também foi solicitado a abolir as lixas, pois com o uso das lixas as peças perdiam seu aspecto "rústico". As encomendas vindas da França, a eleição como "Melhor Artesão do Nordeste", em 1975, em pouco mudaram a vida de Mestre Noza. Permaneceu em seu ateliê, num sobrado na Rua Santo Antônio, sentado em uma velha cadeira de balanço, rodeado de esculturas e gravuras inacabadas. 

Rosilene Alves de Melo*

Professora da Universidade Federal de Campina Grande. Autora do livro "Arcanos do Verso: trajetórias da Literatura de Cordel" sobre a história da Tipografia São Francisco, atual Lira Nordestina

 

 

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